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Marcelo Andrade

Sysop 2 SRE

Cuidado com terraform import

Importando recursos que usam count e for_each

Marcelo Andrade

7 Minutos De Leitura

Square into circle and hammer

(Nota: eu tenho tentado produzir conteúdo de qualidade seguindo uma linha de raciocínio com começo, meio e fim, com valor histórico e altamente apreciável. Com isso, meu último post foi mês passado e eu tenho mais de 30 drafts a concluir. Portanto, vou tornar isso aqui um braindump de conteúdos aleatórios que eu julgar relevante. Foi mal!)


Quem não adora Terraform?

Basta escrever meia dúzia de arquivos que algum programa magicamente interpreta tudo e cria coisas mágicas para você. Fantástico! O único problema é aprender a usar direito.

A Hashicorp, até alguns anos atrás, fazia documentações tão crípticas e ilegíveis que eventualmente perceberam que era necessário um esforço maior para “mentes menores” compreenderem seus softwares. Com isso, investiram somas substanciais de dinheiro fazendo sites como o Learn Hashicorp ou mesmo workshops gratuitos interativos com Instruqt. Eles realmente têm feito um bom trabalho nessa seara.

Em muitos aspectos, o Terraform ainda é deficiente.

Às vezes é pura frescura: vide o terraform-provider-kubernetes, que simplesmente se recusava a implementar APIs betas por anos, tornando-o praticamente inútil. E mesmo quando deployments chegaram à GA, demorou quase um ano para implementar este elemento que é considerado como pedra fundamental para qualquer aplicação Kubernetes.

Mas muitas vezes nem é culpa da Hashicorp: a integração com VMware, mesmo com as últimas funcionalidades implementadas pela última versão, é, literalmente, um horror. E o problema aqui são as severas limitações funcionais das APIs públicas disponibilizadas pela própria VMWare.

Mas chega de ‘rant’: vamos a conteúdo!

Terraform import

Todo mundo sabe que o Terraform precisa de total controle sobre o que cria; o que existe tem que ser criado por ele, e isso é inegociável.

Quer dizer, nem tanto; eles dão uma colher de chá para você tentar adaptar uma infraestrutura já existente à sua automação: o comando terraform import.

Suponha que, agora, você usa Terraform e conseguiu criar 2 máquinas usando seu novíssimo programa! Como você faz para ‘incorporar’ as 2000 máqunas que já existem na sua infraestrutura? Executando 2000 vezes (no mínimo) o comando ‘import’ especificando os ‘terraform resources’ que as máquinas representam, bem como um identificador alienígena que varia completamente de maneira praticamente imprevisível de acordo com o tipo de ‘provider’! (Tudo bem, é melhor que toda infraestrutura tem que ser criado por ele e isso ser inegociável).

Nosso problema: cluster Kubernetes com 10 máquinas virtuais usando VMWare Vsphere. Precisamos adicionar mais 4. Obviamente não usamos Terraform no passado. Como fazer?

Comando da documentação oficial:

terraform import vsphere_virtual_machine.vm /dc1/vm/srv1

O colega com pouca experiência que está trilhando os tortuosos caminhos dos programas Terraform criados por mim (que consigo ser ainda mais críptico que a própria Hashicorp) falou:

“Ufa! Ainda bem que é só isso, certo?”

Claro que não!

  • Se o seu programa (tipo, literalmente, no diretório corrente) criar ‘resources’ do tipo ‘vsphere_virtual_machine’ que sejam escalares (i.e., não usem ‘for_each’ ou ‘count'), o primeiro parãmetro do comando está correto. Caso contrário, está errado!
  • /dc1/vm/srv1 é obviamente um placeholder; você precisa descobrir o ‘caminho VMware’ das suas máquinas virtuais, e, se você não entende de VMWare, pode ter alguma dificuldade com a nomenclatura.

A segunda parte é fácil: basta compor o nome do datacenter com a string arbitrária vm com as ‘pastas’ criadas no Vcenter e, por fim, o nome dos servidores:

  • “/bsa/vm/infra/10069/kubernetes df1/hosts/master1”
  • “/bsa/vm/infra/10069/kubernetes df1/hosts/master2”
  • “/bsa/vm/infra/10069/kubernetes df1/hosts/worker1”
  • “/bsa/vm/infra/10069/kubernetes df1/hosts/worker2”

Tranquilo. (Espero que tenha acesso à API do VMWare para descobrir isso!)

A primeira parte, por outro lado, irá variar radicalmente de acordo com o Terraform que você está usando.

Em nosso caso, por exemplo, eu criei um módulo terraform que encapsula a criação dos recursos VMWare VSphere necessários. Esse encapsulamento ‘vaza’ por uma série de razões, mas me permite passar as máquinas como uma variável map para o módulo mais ou menos da seguinte forma:

vms = {
   "master1" = {
     "profile" = "k8s_worker"
     "hostname" = "master1"
     "network" = {
       "rede1" = "192.168.0.1",
       "rede2" = "10.0.0.1"
     }
   }
   "worker1" = {
     "profile" = "k8s_worker"
     "hostname" = "worker1"
     "network" = {
       "rede1" = "192.168.0.101",
       "rede2" = "10.0.0.101",        
       "rede3" = "172.16.0.1",
     }
   }
   "ingress1" = {
     "profile" = "k8s_ingress"
     "hostname" = "ingress1"
     "network" = {
       "rede1" = "192.168.0.201",
       "rede2" = "10.0.0.201",        
       "rede4" = "200.160.2.1",
     }
   }

(E aqui, um conselho: evite ao máximo criar maps de maps de maps ou maps de arrays de maps como eu gosto de fazer. É uma ideia idiota, que deixa seu programa Terraform praticamente incompreensível para seres humanos. Eu adoro fazer assim por razões, mas definitivamente não recomendo).


Enfim, a criação dos meus resources estão encapsulados no módulo.

Então, o comando ‘terraform import’ deve, necessariamente, fazer referência ao resource dentro do módulo:

  • module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_virtual_machine.vm

E aqui está a pegadinha: aqui está a definição do meu resource vm:

resource "vsphere_virtual_machine" "vm" {
  for_each  = local.vms
  name      = each.value.hostname
  ...

Portanto, o meu ‘resource’ vm não é um tipo simples (ou escalar, como eu chamo), e sim um tipo complexo (por causa do uso do iterador for_each) do tipo map.

O comando correto para importar máquinas já existentes, portanto, é assim:

# terraform import 'module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_virtual_machine.vm["master2"]' '/bsa/vm/infra/10069/kubernetes df1/hosts/master2'

# terraform import 'module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_virtual_machine.vm["worker2"]' '/bsa/vm/infra/10069/kubernetes df1/hosts/worker2'
...

Tá, mas e daí?

E daí que: o que pode acontecer se eu executar o comando errado?

# terraform import module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_virtual_machine.vm '/bsa/vm/infra/10069/kubernetes df1/hosts/worker2'

Acima, erramos o comando, e importamos ‘worker2’, que deveria ser membro de um map, para vsphere_virtual_machine.vm do módulo diretamente.

O que se espera normalmente? Um erro de execução, certo?

Vai dar erro, mas não no import. O import irá executar de maneira bem sucedida. Mas, depois disso, provavelmente tudo relacionado a este programa falhará.

Após a execução do comando errado, fui agraciado com a seguinte mensagem:

# terraform apply 
...
module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_virtual_machine.vm["ingress3"]: Refreshing state... [id=421ab407-1bc3-dceb-6906-72fe3fad4c0e]

Error: Unsupported attribute

  on .terraform/modules/vmware-cluster-k8s-raw/locals.tf line 104, in locals:
 104:   vms_result = { for key, value in vsphere_virtual_machine.vm : key => { for network in value.network_interface : network.network_id => network.mac_address } } 

O que esse erro quer dizer? Quer dizer que aquela sequência mágica de ‘terraform maps comprehension’ falhou. Por quê? Putz, vai adivinhar.

Meu colega aplicou um “Senhor, eu desisto, Senhor!":

E isso, obviamente, faz qualquer sênior SRE muito feliz!


Como fui eu que pari a besta, voltei para entender.

Observei o seguinte descrevendo o arquivo de estados:

# terraform state list
module.vmware-cluster-k8s-raw.data.vsphere_compute_cluster.compute_cluster
module.vmware-cluster-k8s-raw.data.vsphere_datacenter.cluster_datacenter
module.vmware-cluster-k8s-raw.data.vsphere_datastore_cluster.cluster_datastore
module.vmware-cluster-k8s-raw.data.vsphere_network.networks["cluster"]
module.vmware-cluster-k8s-raw.data.vsphere_network.networks["ingress"]
module.vmware-cluster-k8s-raw.data.vsphere_network.networks["management"]
module.vmware-cluster-k8s-raw.data.vsphere_network.networks["storage"]
module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_folder.folder
module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_virtual_machine.vm
module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_virtual_machine.vm["worker1"]
module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_virtual_machine.vm["worker2"]

Algo estranho aqui: temos dois tipos de ocorrências para o objeto que representa o map vm:

  • module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_virtual_machine.vm: um ‘escalar’!
  • module.vmware-cluster-k8s-raw.vsphere_virtual_machine.vm[]: este sim com todas as ocorrências adequadas!

O comando errado de import criou uma entrada errada no ‘state file’ que bagunçou o funcionamento da lógica do módulo.

Nossa situação foi um pouco pior, porque o comando gerou a máquina em um lugar no VMWare que ela não deveria ser criada por razões desconhecidas (novamente, em vez de dar erro!), e que não tínhamos permissão para remover também por razões desconhecidas.

A solução para este caso foi a remoção da máquina problemática do ‘map’ de objetos criados; após um apply bem sucedido com a remoção da máquina problemática, o Terraform foi capaz de perceber o desvio no arquivo de estado e corrigiu sozinho, removendo a entrada inválida e me poupando (desta vez!) a experiência aterrorizante de manipular o estado com ‘terraform state’, então, se era para isos que você veio aqui, desculpe frustrar sua expectativa!


Para aprender com esta experiência:

  • Criar módulos Terraform para tudo parece uma ideia genial, mas quanto mais você encapsula achando que está reusando código, mais estará duplicando entradas de variáveis e se distanciando das validações básicas do programa;
  • Evite usar de maneira leviana maps, arrays, counts e for_eachs a menos que você esteja disposto a ir até o fim por suas escolhas - ou trabalhe com alguém insano que use em todo canto; aí, meu amigo, meus pêsames;
  • Não execute ‘imports’ até ter certeza absoluta do que está fazendo.
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